Selasa, 06 Desember 2011

Fotógrafo oficial do Iron Maiden revela bastidores da banda à bordo do voo 666; leia entrevista


Foram 2.000 shows ao vivo diante de 4 milhões de fãs, percorrendo mais de 300 mil quilômetros em 127 cidades e 52 países. Com números desta magnitude, é difícil não se impressionar com o livro "On Board Flight 666" do fotógrafo John McMurtrie.

Fotógrafo oficial do Iron Maiden, McMurtrie acompanhou as turnês a bordo do Boeing 757 da banda, o Ed Force One, compilando a experiência num livro com mais de 600 imagens, entre shows, cenas de bastidores e o que define como "aventuras".

"É uma jornada que leva o leitor para os shows sob o ponto de vista da banda, sentindo as experiências como eles sentiram", disse o fotógrafo entusiasmado em entrevista UOL por telefone.

Acompanhadas de comentários, as fotos documentam detalhadamente as diversas dimensões de uma turnê do Iron. Desde os elaborados cenários de palco e performances dos integrantes à maquinária e equipe que fazem tudo funcionar, é o mais próximo que os fãs chegarão de acompanhar a banda em suas viagens pelo planeta. Como diz o vocalista  Bruce Dickinson na introdução, "se algo não está aqui, é porque não aconteceu".


UOL Música - O que te inspirou a levar adiante este projeto?
John McMurtrie - Bem, ninguém nunca fez isso antes, excursionar num avião 757 com a banda e a equipe, e 12 toneladas de equipamento. Bruce Dickinson foi quem converteu o avião e teve a idéia de fazer a turnê nele. Quando ele me falou disso, eu imediatamente pensei 'isso daria um livro inacreditável'. Eu ia fazer o livro em 2008, mas saímos em turnê de novo, depois a mesma coisa em 2009 e daí por diante. Até que neste ano, antes da turnê de "The Final Frontier", percebi que era a hora certa. Coloquei todas essas turnês em ordem cronológica no livro. É a primeira vez que o Iron Maiden é documentado desta maneira, não apenas dentro e fora do palco, mas também as aventuras no avião e outras coisas que a banda faz durante as turnês. Nós andamos de submarino, atiramos com armas de fogo e fizemos todo tipo de maluquices. Nenhuma banda fez turnês assim e eu percebi que seria um excelente presente para os fãs. Seria um crime não registrar tudo isso.

UOL Música - Quais foram os momentos mais impressionantes que você fotografou?
John McMurtrie - São muitos. Tem algumas histórias de bastidores, de shows que quase não aconteceram e o que precisou ser feito para impedir os cancelamentos. O livro começa em 2007 com Bruce inspecionando o avião pela primeira vez. A viagem para Indonésia foi muito divertida, com dança do fogo em Bali, fãs muçulmanos rezando antes do show usando camisetas do Iron Maiden, incluindo o imã [sacerdote islâmico]. Eu citaria ainda Houston, no Texas, onde fomos ver o ônibus espacial, os Andes em Santiago do Chile, os fãs de Buenos Aires. E o Brasil, é claro, foi incrível do começo ao fim. Os shows foram todos fantásticos, Belo Horizonte, Rio, Belém, Manaus ali ao lado da selva com o Rio Amazonas... mas o show de São Paulo, no autódromo de Interlagos, foi provavelmente o show mais memorável do livro. Sinceramente.

UOL Música - Eles disseram na época que o show de São Paulo foi o maior da carreira deles fora de um festival e um dos mais emocionantes. Você, que viu tantos shows do Iron, concorda?
John McMurtrie - Eu nunca vi o Iron Maiden demonstrar nervosismo antes de um show. Pode soar como clichê, mas neste show havia uma atmosfera elétrica. Eles tinham que entrar no palco às 20h30, mas 20 mil das 70 mil pessoas presentes ainda estavam na fila para entrar e os caras da banda não queriam começar a tocar enquanto todo mundo não estivesse lá dentro. O tour manager, Rod Smallwood, foi ao palco avisar que o show atrasaria meia-hora e voltou impressionado, dizendo que aquela seria uma noite especial. E foi. A paixão do público foi fora de série, e isso impulsionou a banda ainda mais do que o normal. Eu não acho que o Iron Maiden já tenha feito um show ruim na vida, mas sempre que vamos ao Brasil é certeza de que será melhor do que em qualquer outro lugar. E Interlagos foi um dos melhores de toda a minha vida.

UOL Música - Qual é a melhor música do repertório do Iron Maiden para fotografar?
John McMurtrie - Acho que é "Rhyme Of The Ancient Mariner" do álbum "Somewhere in Time". Tem fogos de artifício, uma parte no meio com fumaça de gelo seco, mudanças de figurino... é extraordinária. Para mim é a música definitiva do Iron Maiden, tanto para ouvir como para fotografar.

UOL Música - Como você compara fotografar o Iron Maiden com outras bandas com quem você trabalhou?
John McMurtrie - Não existe outra banda que faça um show como o deles, sem dúvida. O AC/DC chega perto. Eu trabalhei com eles após a turnê do Iron e é um show fenomenal, tem um trem no palco, mas fora isso o cenário não muda muito e, para ser sincero, eu acabava me entediando. E é isso que eu gosto no show do Iron Maiden, cada música tem uma mudança de cenário, você tem "Rhyme Of The Ancient Mariner", "Powerslave". Para os fãs, vale cada centavo do ingresso e para mim, como fotógrafo, tenho material todas as noites. Fora do palco, o que eu mais admiro é que eles são gente de verdade. Tudo que está no livro é 100% verdadeiro, exatamente como aconteceu, sem pose. Enquanto que com outras bandas sempre existe teatro, falsidade e atitudes de rockstar, o que torna o meu trabalho mais difícil.

UOL Música - O Iron é uma das maiores bandas de metal de todos os tempos e estão juntos há mais de 35 anos. Nessa altura do campeonato, eles já estão mais tranquilos ou continuam aprontando como rockstars nos bastidores?
John McMurtrie - Bem, dá para ver a coisa de duas maneiras. Eles ainda são rockstars, é claro, mas não têm arrogância. O Iron Maiden sempre foi uma banda real, os caras são genuínos sem fazer teatro. No que diz respeito a eles terem mudado, Bruce não diminuiu o ritmo nem um pouco. Ele não para nunca. Se você não tem o que fazer num dia qualquer, é só ver o que ele vai fazer e com certeza será algo maluco. Steve também, ele está sempre jogando futebol. Yannick vai explorar, Nicko vai jogar golfe com Dave, Adrian escapa para pescar. E eles todos ainda curtem tomar uma cerveja no bar e são muito divertidos. Então não, eu não acho que eles estejam pegando mais leve. É só vê-los no palco, o show é fenomenal. Como fotógrafo, eu ainda fico exausto de ter que acompanhar o ritmo deles.

UOL Música - Mas nada de jogar televisores pela janela ou destruir quartos de hotel...
John McMurtrie - (Risos) Não, isso eu ainda não vi! Mas nunca diga nunca!

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